TANCREDO NEVES VENCE MALUF NO COLÉGIO ELEITORAL
Há 23 anos, o Legislativo, que deve ser eleito, elegia em nome do povo
Este é um ano de eleições municipais. Por todo o país, em outubro, se renovarão mandatos, ou as cadeiras de prefeito terão novos ocupantes. Criada por São Paulo, na década de 30, a Prefeitura é uma instituição que vai ficando “sessentona”, sem perder seu charme. Tanto que encanta senadores, deputados, ministros, empresários e até ex-presidente da República, caso de Jânio Quadros, e ex-governadores, como Amazonino Mendes (AM), só para citar dois. Enfim, a eleição, seja ela municipal, estadual ou nacional, mexe com todos, afinal o homem sempre foi um animal político. No história brasileira recente – 1964 a 1984 – só debaixo da espada de generais que comandaram um regime ditatorial que durou 21 anos, o povo deixou de ir às urnas e de explodir a paixão pelo seu candidato. Mas é daquela fase de eleições indiretas que o JBr trata hoje, relembrando como foi que um colégio eleitoral se reuniu, pela última vez, para votar em seu nome.
Tancredo Neves era deputado federal e presidente do Partido Popular (PP), em junho de 1982, quando fizera um discurso, considerando o País “amordaçado por uma pequena minoria que usurpou o poder pela força, e dele não quer sair, senão pela força”. Mexeu com os brios de parte dos militares que não gostariam de encerrar o que já durava 18 anos de ditadura. Pouco depois, Tancredo já estava no PMDB e, pela legenda, venceria o candidato do governista PDS, o ex-ministro dos Transportes, Eliseu Resende, na disputa pelo governo de Minas Grais.
Tancredo chegara ao Palácio da Liberdade pensando no Palácio do Planalto. Tanto que, na metade do mandato, dissera a amigos íntimos que estava decidido a concorrer à presidência da República, mesmo estando com 70 anos de idade. O seu discurso incluía fazer crer que muitos companheiros lhe exigiam a candidatura, e, lutar contra o autoritarismo, seria seu dever.
Enquanto governava Minas, Tancredo armava as suas bases para derrubar a candidatura do deputado Ulysses Guimarães, presidente do seu partido e apoiado por São Paulo e por grande parte dos demais estados. Porém, estivera sempre junto de Ulysses pelos palanques por onde rolava a campanha pelas “diretas, já!”, de janeiro a abril de 1984, forçando a barra para a emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira, em agosto de 1983, acabar com o colégio eleitoral.
No dia 24 de abril, véspera da votação da “Emenda Dante de Oliveira”, o presidente João Figueiredo colocou Brasília sob estado de emergência, e o comandante militar do Planalto, general Newton Cruz, cercou o Congresso Nacional. No dia seguinte, a tensão instalou-se em plenário, nos momentos antecedentes à votação. Por ordem de Figueiredo, o PDS retirou 113 deputados da casa, para não dar quorum à votação. Mesmo assim, o pleito ocorreu, embora a oposição não levantasse 22 votos para atingir o mínimo necessário de 320 e mandar o povo às urnas escolher o seu chefe da nação –– 298 votaram a favor das diretas, 65 contra e três se abstiveram. Mesmo ganhando e não levando, a bancada governistas começou a rachar, do que aproveitou-se muito bem a “raposa mineira”.
APOSTA NA RAPOSA - No dias 29 de abril daquele 1984, os governadores eleitos pelo PMDB se reuniram, em Brasília, sob a liderança de Ulysses Guimarães, mas o deixaram para trás. Preferiram apostar as suas fichas na candidatura de Tancredo Neves. Dentro do governo, havia quatro candidatos: o mineiro Aureliano Chaves, o paulista Paulo Maluf, o pernambucano Marco Maciel, e o ministro do Interior, Mário Andreazza, este um coronel do Exército. Como presidente do PDS, o senador José Sarney sugeriu uma eleição caseira para se chegar à convenção que ungiria o candidato governista, proposta que Figueiredo até aceitou, desde que houvesse a concordância dos quatro. Mas a idéia só fez gerar uma crise que abalou o partido. Como Maluf discordou da prévia, Sarney rompeu com o PDS e uni-se a Tancredo.
Rachado o governo, este passou a combater as “diretas, já”, e até admitiu, em forma de mensagem ao Congresso, eleições diretas a partir de 1988. Mas, em julho, uma nova dissidência bateria às portas do PDS, carregando nomes de peso como o vice-presidente da República, Aureliano Chaves, e o presidente do diretório regional carioca, Wellington Moreira Franco. Eles se uniram aos senadores Pedro Simon, José Sarney, João Calmon, Jorge Bornhausen, Marco Maciel, Afonso Camargo, Humberto Lucena, e aos deputados Ulysses Guimarães, França Teixeira, Saulo Queirós, Fernando Bastos e José Lourenço, se aliando a Tancredo Neves e formando a Aliança Democrática que, mais tarde, enfrentaria o candidato do governo no colégio eleitoral, o deputado Paulo Maluf, que, na convenção pedessista, colocara 143 votos de frente sobre Andreazza – na do PMDB, Tancredo Neves fora aclamado, com 656 votos, contra 32 nulos e brancos. Sarney saiu vice, obtendo 543 votos, contra 143 brancos e nulos.
Quando Tancredo Neves renunciou o governo mineiro, em agosto de 1984, seu sucessor, Hélio Garcia, tratou logo de combater os malufistas do Estado. Vendo Minas inteiramente do lado de Tancredo, vários governadores nordestinos e muitos empresários fortes do País também embarcaram na candidatura peemedebista.
COLÉGIO ELEITORAL - Formado por todos os senadores e deputados, além de seis representantes de cada assembléia legislativas estadual, o colégio eleitoral preocupava Tancredo Neves. A sua mesa diretora era tidas com inclinações malufistas, ou seja, presidente Moacir Dalla e vice-presidentes Raymundo Parente, Lomanto Júnior, Milton Cabral e Lenoir Vargas, contra apenas dois membros do PMDB, Henrique Santillo e Jaison Barreto. E isso se fez sentir quando Dalla decidiu que a eleição dos representantes das assembléias seria pelo voto secreto, quebrando um acordo de lideranças.
Os malufistas exigiam ainda as anulação dos votos dos dissidentes pedessistas, sob a alegação de fazer valer a fidelidade partidária. O tema foi parar no Tribunal Superior Eleitoral, que não encampou a idéia, e aprovado na votação do parecer do relator e senador Milton Cabral, por 4 x 3.
Assim, no dia 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves bateu Paulo Maluf, no colégio eleitoral, por 480 x 180 votos – nove eleitores não compareceram e 17 se abstiveram de se manifestar. Foi a última fez que votaram pelo eleitor.
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