Fã numero 1 de Roberto Carlos festeja, hoje, 18 anos de criação do seu museu que homenageia o ídolo
Imperial foi o criador; Roberto, o mito; Erasmo, o irmão camarada e Ed a invenção que não vingou como cantor. José Wilson Costa Dias bem que poderia ser o quinto Carlos dessa “dinastia”, assim como o arranjador George Martin fora o quinto beatle. Afinal, ele é o único fã para quem o “Rei” já telefonou, prometeu uma visita e mandou presente.
Eleito por patrocinador de Roberto Carlos como o maior fã do cantor, Zé Wilson, como é chamado, acha que ele deveria ser o numero zero, e não o primeiro, pois execra a legião que se intitula de fã número um. “Não posso admitir que se curta um artista e ganhe dinheiro em cima dele, vendendo tudo sobre ele”, critica o bancário aposentado, que faz questão de copiar, xerocar ou fotografar, gratuitamente, qualquer um dos itens que compõem o seu acervo “robertista”.
A paixão do maior fã do “Rei da Jovem Guarda” começou quando ele tinha 12 anos e residia na maranhense Pedreiras. Uma vizinha o convidou a escutar o LP “Louco por Você” – o primeiro e, hoje, execrado – e ele gostou tanto que, ao final da rotação do vinil, iniciou uma grande paixão. “Depois disso, uma amiga recortou e me deu uma foto do Roberto, tirada da Revista do Rádio. Foi o ponto de partida para eu colecionar tudo sobre ele. Quando cheguei em Brasília, com 14 anos, arrumei emprego como jornaleiro e fui aumentando a coleção”, conta Zé Wilson.
MUSEU – O ponto culminante da paixão do maranhense por Roberto Carlos foi a construção, em sua casa, em Taguatinga, de um museu – ‘Cantinho do Rei’ – dedicado ao ídolo e inaugurado no dia 21 de abril de 1991. Já o visitaram vários cantores da música popular brasileira, mas a visita do homenageado ainda não ocorreu. “Ele prometeu-me, duas vezes, vir aqui, mas, no dia marcado, 26 de novembro de 1994, aconteceu um temporal de fechar o espaço aéreo”, lamenta Zé Wilson, segundo o qual, assessoria do cara “barra limpa” informou-lhe que a visita seria à meia-noite e Roberto chegaria com seguranças, um fotógrafo e um carro na escolta.
O pedaço dedicado a Roberto Carlos já conta com 3.500 fotos, 150 discos raros, mais de 100 posters, dezenas de capas de revistas, reportagens, gravações que não chegaram ao público, bonecos estilizando o cantor e 400 pinturas, em nanquin, sobre o ídolo, todas produzidas pelo próprio Zé Wilson, que também desenha e modela. Tudo isso porque, em 1989, um programa de TV mostrou a paixão dos maiores fãs de Emilinha Borba, Marlene e Raul Seixas, entre vários, e esqueceu-se dos súditos do “Rei”. Zé Wilson tomou aquilo por desaforo.
No dia da inauguração do museu, o então bancário abriu o cofre, promoveu um churrasco e reuniu vários cantores e uma banda. “Contei 110 presentes, e não entraram mais porque não tinha como”, lembra o Zé, cuja paixão lhe valeu entrevistas em várias TVs. “O museu virou uma curiosidade nacional. Em 1994, a Globo dedicou-me oito minutos dentro do Fantástico”, regozija-se.
Em abril daquele ano, a cervejaria Brahma elegeu Zé Wilson o maior fã de Roberto e o levou para conhecer seu ídolo. Mas esqueceram de combinar com a produção e a segurança do “Rei”. “O Dodi Sirena (empresário) disse que nem o Papa falaria com o Roberto no camarim, e me barrou”, decepcionou-se, o maranhense.
PAPO TELEFÔNICO – Quando Roberto Carlos soube do incidente com seu maior fã, telefonou-lhe e passaram 42 minutos conversando. “Já nos falamos seis vezes, com todas as ligações partindo dele. Da última vez, ele pediu-me orações”, revela Zé Wilson que nunca indagou ao amigo como conseguira os telefones do seu trabalho e de sua casa. “Deve ter sido com o patrocinador”, imagina.
Sempre que Roberto Carlos vinha a Brasília, Zé Wilson ia ao aeroporto recebê-lo, abraçá-lo, acariciar a sua cabeça. “Hoje, não faço mais isso, porque ele anda com mais de 30 seguranças. Não são mais os tempos em que podíamos trocar amabilidades”, sente saudades.
O primeiro filho de Zé Wilson chama-se Roberto Carlos, nasceu dois dias antes do aniversário do “original” e a mãe se chama Nice, nome da primeira mulher do artista. Ele conheceu a sua Nice, em 1973, durante um show de Roberto, no ginásio Nilson Nelson. Estava sentado do lado dela, que pegou em uma de suas mãos, quando ouviu “As flores do jardim de nossa casa”. “Entusiasmado, eu disse-lhe que iria me casar com ela, que achou que era doido. Só no dia seguinte fiquei sabendo do seu nome. Namoramos apenas cinco dias. No sexto, propus-lhe casamento, o que durou 31 anos e meses”, relata.
CRÍTICAS – Ao mesmo tempo em que adora, Zé Wilson critica Roberto Carlos, por não dedicar nada aos fãs. “Ultimamente, tudo o que ele faz é para a Maria Rita, que Deus levou, há nove anos. No entanto, ele contou-me que o maior amor de sua vida fora a Nice. Não entendo”, reclama o tiete, para quem os fãs são os responsáveis pela trajetória do maior fenômeno de música brasileira de 1965 para cá.
Quanto ao barulho feito por Roberto Carlos quando Paulo César de Araújo lançou a sua biografia (em 2006), Zé Wilson, pelo que conhece do velho camarada, faz esta análise: “Se o Roberto não permite regravações de suas músicas, sem autorizar, imagine esmiuçar a sua vida em um livro! Do seu ponto de vista, agiu corretamente. Do meu, acho um crime se invadir a vida alheia”, posiciona-se ele, que também escreveu um livro sobre seu personagem, mas não o lançou, por falta de patrocinador.
E por falar em livro, o ‘Cantinho do Rei’ dispõe de uma das duas maiores raridades que marcam a história de Roberto Carlos: o livro de poesias lançadas por este, em 1968 – a outra é o LP “Louco por Você”, que sumiram com ele do museu. Por incrível que pareça, a “casa” só tem um iten autografado, o disco de 1995, em vinil, que Roberto mandou com a dedicatória, “Com amor, Roberto Carlos”.
O colecionador atribui grande parte do carisma de Roberto Carlos à sua doçura, meiguice com as platéia e, sobretudo, ao seu lado humano: “Ele ajuda a muitas pessoas. Em 1975, eu estive em sua casa, em São Paulo , e presenciei o seu tecladista, o Wanderley, preenchendo cheques para doações de caridade”, enaltece, lembrando, ainda, ter visto, na garagem, três calhambeques, um Cadilac e uma Mercedes.
PREFERIDAS – O maior fã do cantor capixaba elege “Detalhes”, “O Homem” e os sucessos da Jovem Guarda – 1965 a 68 – como os seus hits prediletos, além das músicas do LP de 1959, gravadas com as orquestras antigas, sem guitarras.
Quando a imprensa anuncia que Roberto Carlos está preparando um novo disco, Zé Wilson já sonha com o que vem por aí. Diz que vira compositor e bola canções que imagina ouvir o “Rei” dando uma canja especial só para ele. “Já arranhei duas delas, pelo telefone, para ele, que até me achou afinado e me pediu cópias. Acho, porém, que nunca chegaram ao destino, as enviei para a sua gravadora”, direciona.
As raridades em gravações de Roberto Carlos que Zé Wilson dispõe são testes para definição dos antigos LP de vinil “Me foram dadas por um visitante do museu, amigo de um cara que trabalhara na CBS (selo da gravadora de Roberto na década-60). Nesses testes, ele canta sem a letra definitiva, casos de “Negro Gato”, “Querem acabar comigo”, “O Gênio”, entre outras”, informa.
Hoje, quando completa 18 anos, o ‘Cantinho do Rei’ já foi visitado por mais de 10 mil pessoas, calcula Zé Wilson, que fechou o livro de visitas, há mais de 10 anos, com cerca de 800 assinaturas, e não o recompôs. Só o “refará” quando Roberto cumprir a ameaça de visitá-lo. “Ele será o novo visitante número um. Só não será o zero, porque aí não tem jeito”, brinca.
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