quinta-feira, 10 de maio de 2012

O GRANDE TAMPINHA


    Garçom que já foi palhaço de rua é atração nas noites candangas

 Lá vem o garçom dançando, tropeçando, fazendo que cai – mas não cai.  Todo mundo ri. De repente, ele para diante de uma  mesa, onde três gatas curtem o happy hour, e anuncia: “Quibe caseiro e asiático!” Uma delas quer saber da diferença. Ele responde: “Comer do asiático, menina,  é asia gantida; do caseiro, dá tempo de chegar em casa para cair duro por lá”.
Sorrisos espalhados, as gatinhas pedem  os salgadinhostrês, pra tirar as provas.  Dali a menos de dez minutos, aquele sujeito, usando um avental recoberto por 340 pins, já esvaziou  uma bandeja, com 50 tira-gostos, entre quibes e empadas,  engodando, ainda mais, a cnta do patrão.
 O carinha das estrepolias descritas  nas linhas acima foi batizado, numa paróquia do sertão piauiense como José Braz Ribeiro, nome do qual fez pouco uso.  Preferia ser chamado Fusquete, nas praças públicas do Nordeste, onde ganhava a vida, desde adolescente, como palhaço. Há 11 anos, ele resolveu conhecer Brasília, e por aqui ficou.  “Dei uma assuntada na situação, mas, por aqui, não havia cancha pra botar o povo pra  abrir  os dentes na rua. Aí, pintou um emprego, de motoboy de pizzaria, e não dispensei a carona”, conta o carinha que rodava pelo Maranhão, quando desemplacou um apelido automobilístico bem compatível com a sua estatura: 1m56cm.
CELEBRIDADES - De governadores a ministros, o que não faltam são famosos  aparecendo no Armazém do Ferreira, na 202 Norte, pra conhcer   o garçom Tapinha, nome que herdado do “original”, um palhaço  muito famoso em São Luís do Maranhão e que se aposentara  vendo no baixinho piauiense o rascunho do seu sucessor.
 Quando uma dos seus visitantes era o governador da Bahia, Jacques Wagner, e o viu terminando de atender  a uma chamda no celular, o intrépido Tampinha caçoou: “Oxente! Seu telefone sai da rede?” – alusão ao amor dos bainos por uma tranqülidade.    
O ex-governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, era outro que curtia muito as brincadeiras do Tampinha. “Foram muitos os meus fregueses famosos, desde 18 de novembro de 2002, quando comecei a trabalhar na casa”, conta Tampinha, citando, entre poucos, José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil do govrno Lula), Antônio Palocci (ex-ministro da fazenda e hoje deputado), Rciardo Berzoini (ex-ministro da....), Patrus Ananias (ministro da) e o senador Cristovam Buarque.
 Do  meio das celebridades, Tampinha tira uma história  engraçadíssima pra contar: “Um determinado parlamentar aparecia por aqui, dia sim, dia também, acompanhado por uma  loira de fechar o quarteirão. Numa noite, porém, chegou com um balseirão (nome que os nordetinos dão às grandes balsas, transporte aquático muito usado na região). Quando o homem  me avistou, foi logo gritando: ‘Tampinha! Minha patroa!’ Era a sua senha para eu não pisar na bola”.
 Mas teve coisa bem pior. Tampinha acabava de servir uma empada a um casalzinho, velhos fregueses, quando o celular do cara   tocou. “Era a outra. A oficial sacou e os dois quebraram o pau, ali mesmo. Terminaram descedndo as escadas (há um andar no subsolo do prédio, onde fica a cozinha do bar) e, lá, se zunharam legal”, relembra o garçom, que já apartou uma  briga de  maneira esquisitíssima. “Não sei se era a otura ou a uma, que ficou no estacionamento, na moita. Quando os dois sem-vergonhas chegaram ao carro... já viu, né?”
Nesse ponto da narrativa do Tampinha a história começa a virar lenda. Há cliente que jura ter assistido o rebu. Alguns contam o “causo” de diferentes maneiras. Um rapaz a quem o Tampinha   servia empadas, no início da noite de 08.12 (pediu anonimato, por estar dando uma escapadinha) jura ter visto o garçom se metendo no meio do quiprocó, com uma bandeja e gritando: “Olh´o quiiiiibbbeee! Empadinha com sabor frango, camarão, pernil, galinha, porca, gerimum, quiabo maxixe e cuxá ponto com, ponto br”. De sua parte, sonso do cidadão piauiense, só curte: “Não nego, nem desnego”, avisa.
ESTÁTUA - O cartunista Jaguar tomava seu chope, beliscando um quibe, quando o Tampinha chegou, sugerindo: “Que tal provar uma empadinha Bin Laden”. Um dos humoristas do Pasquim (semanário que encarou a Revolução de 31 de Março de 1964, com jocosidade), Jaguar quis saber detalhes da iguaria. “É uma bomba. Vai exploldir no seu bucho”, sacaneou, o garçom, fazendo o cartunista se mijar de rir. Literalmente!
O resultado daquela brincadeira foi que Jaguar chegou para o empresário Jorge Fereira, dono da casa, e disse-lhe: “Este seu garçom é um Grande Otelo. Um show de comunicação. Merece uma estátua.” Não deu outra. Dali a poço tempo o Ferreira “estatulava” o Tampinha numa vitrine, bem na frente do seu estabelecimento. “Ali, sou mais fotografado do que ladrão de galinha, em delegacia de interior”, compara o homenageado.
A estátua do Tampinha já tem “quatro anos de boemias”, como ele prefere classificar e a sua inauguração foi numa véspera de ele entrar em férias. Sem saber se chorava ou sorria,  surpreso, sua única reção foi colocou no “clone” um dos seus aventais,   com 572 pins.
 Uma noite depois da inauguração do “Tampinha-2”, uma sua cliente-fã, “com mais de 60 (anos) no currículo”,  não viu o amigo pelo recinto,e indagou pelo seu paradeiro. O Amorim, um outro garçom,  muito gozador, disse-lhe que o colega “estava do inferno pra lá, pois não fora aceito no purgatório”. Pra completar, dera detalhes do acidente que “matara” o Tampinha, “caído de uma moto, do alto da Ponte JK”.  E deixou a história rolar.
 Tempos depois, a senhroa voltou ao bar, levando os netos pra conhecerem a estátua do Tampinha, do qual contara muitas histórias que divertiam o avô.  Ao se deparar com o garçom que, para ela,  já era alma do outro mundo, ficou amarela, branca, quase deamais. “Ela foi quem quase mata, de tanto me beliscar, pra ver se eu estava vivo, mesmo”, rememora o Tampinha, sorrindo muito.
PIADAS - Segundo o folclíroco José Braz Ribeiro, piadas de palhaços são todas iguais. “Só mudam os gestos”, afirma, explicando que foi por isso que ele projetou todos os seus trejeitos. Quanto às piadas, asuas vítimas prediletas são os gaúchos. “Neste úyltimo dia 31 de julho, pintou por aqui um deputado do Sul, que enxugou o chope da casa. Quando me pediu um quibe, cheguei dançando e sacaneando: “Tchê! Hoje é  melhor noite do mundo pra gaúcho”. Sua Excelência perguntou porque, e eu sacaneei:  amanhã, já é dia primeiro, entra agosto”.
  Não precisa dizer que o depuado riu muito. “ E o pior foi que, além de rir, ele ainda anotou a piada, dizendo que aquela ele não conhecia”, ressalta o Tampinha, acrescentando. Mas o gaúcho era muti bem humorado. Eu lhe disse que ouvia falar muito dele, e foi a sua vez de gozar c om a minha cara, dizendo:  “Não acredite. É tudo mentira”.
   Em 1997, quando trocou as palhaçadas em logradouros públicos, por entregas de cartas, documentos e encomendas, no Planalto Central, Tampinha  não tve como fugir do seu destino.  Para animar uma festa de fim de ano da pizzaria Gordeixos, onde trabalhava, usou tudo o que trouxera do Norteste, dos seus tempos de circo. Encantou a platéia e o  patrão o transferiu de estabelecimento e ofício, o qual  já o executa há seis anos.
Quando começou na nova profissão, uma das primeiras gracinhas do Tampinha foi chegar pra uma loira e sugeri-la não saltar de pára-quedas. “Porquê?”, quis saber a oxigenada. E oouviu. “De repente, ele pode lhe dizer: estou contigo e não abro”. A  garota soluçou de tanto rir. Mais ainda o damorado dela, ao  ouvir a poroposta do Tampinha: “Se você achar um camarão dentro desta empada de camarão, vai ganhar uma bicicleta”.
  Por vender alegria, Tampinha diz que ir ao Armazém do Ferreira e não comer um dos salgadinhos que ele sai vendendo é o mesmo que “ir a uma piscina com calça jeans”. E filosova: “O defeito das  pessoas é não é  serem simpáticas. Eu, por exemplo, além de simpático, sou lindo. Pareço até com o Maurício Matar (de fome)”, brinca.
PINS - O avental repleto de pins é a “marca registrada” do Tampinha. No dia em que conversamos, um frguês invocou com seu broche do Vasco, também integrante dacoleção. Coincidentemente, o dia 08.12 era uma segunda-feira, e o garçom não perdoou: “É time de segunda (o Vasco fora rebaixado à Segudan Divisão do Brasileirão, na vésprea) e aqui entar qualquer porcaria”, palavra de corinitano, que diz ter uma grande amigo santista: “Geraldo Santos”, que seria “geral do Santos” (geral, a parte do estádio onde a turma ficava em pé).    
 O primeiro pin do Tampinha foi presente, há quatro anos, do advogado João  Maia e alusivo à OAB. Os subseqüentes estão memorizadísimos. “O da UnB é o 140, o da dupla (sertaneja musical) Chitãozinho e Chororó é o 123 e o segundo que me deu o João Maia tem de número 478”, vai desfilando memória.
BAIANADAS - Como presente pelos bons sérvios prestados, o patrão do Tampnha o envia, nos finais e inícios de ano, para resorts da Bahia, onde ele trabalha servindo celebridades do esporte e da música. Numa desas vezes, a grande atração da rapaziada era  vê-lo pulando para tentar tocar na palma da mão dos jogadores da seleção brasileira de vôlei, na época de Carlão, Tande, aquela turma. Como os caras tinham, em média, 2m,5cm de altura, o máximo que o Tampinha consguia era acertar nos seus cotovelos. “Tremenda curtição pra galera”,  rememora.
É assim o Tampinha. Já trabalhou em campanhas educativas do trânsito de Brasília e  devolveu dólar de cliente carrancudo. Não livrava nem a cara do pai, quando era palhaço de circo, no Piauí. Certa vez, com o coroa na platéia, ele inventou uma piada, que o fez rir, muito. “Meu pai tinha horror de um vizinho que vivia botando na radiola músicas de corno pra tocar, bem alto. Então, mandei ver, contando, que meu velho tinha jogado uma praga, pra chover no Piauí e uma enchente carregarr tudo quanto fosse corno. Aí, minha mãe dizia: cuidado, véi, que você não sabe nadar”.  
 Com o que já ganhou, Tampinha está montando uma frota de mototax, já com seis empregados, pagando a cada um R$ 1.500 mensais. Ela acorda cedão, pra cuidar do negócio, que é gerido pela mulher, Toinha. “Por ora, o escrfitório é debaixo de um pé de pau, na sombra”, dá o endereço, sem CEP e maiores detalhes.  Pai de uma garota, de 16 anos, e de dois garotos, de 13 e 10,  respectivamente, o intrépido “motopalhaço” não se empolga tanto com o futuro empresarial. “Gosto, muito mais, é de fazer palhaçadas, estar mais enfeitado do que penteadeira de moça namoradeira”, dá o recado.

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