quinta-feira, 10 de maio de 2012

CRISTO PRONTO PARA TEMPOS MODERNOS

  “Jesus iria ao Congresso, ao Maracanã, a um churrasco, dirigiria um Ômega e usaria a Internet”

 Braço direito do arcebispo, Dom João Braz de Avis, o pároco da Catedral, monsenhor Marcony Vinicius Ferreira, é o primeiro padre nascido e consagrado em Brasília.  Professor de teologia, em dois seminários e do curso superior de teologia da Faculdade de Teologia da Diocese da Brasília, ele ainda cuida de toda a liturgia da diocese e preparo os ministros extraordinários da comunhão eucarística. Monsenhor Marcony estudou nos colégios Coeur Jesu e Compacto, e fez os cursos de filosofia e teologia no Seminário Nossa Senhora de Fátima. Depois,  licenciatura, em liturgia, em Bogotá, na Colômbia, e mestrado, em Roma, durante três anos. Voltou, em 1996, quando o arcebispo Dom Falcã0o o designou para servir na Catedral. Nesta entrevista ao JBr, ele passa o discurso moderno da Igreja Católica, sem fugir de nenhum tema. E enfatiza a relação Cristo-juventude.

  
JBr – Estamos na Páscoa, a maior festa do catolicismo. Que tratamento moderno a Igreja confere para este período?

R – Cristo veio ao mundo trazer a vida, e a sua igreja a celebra. É uma boa mensagem repassá-la, principalmente à juventude,  pela estilização do ovo da Páscoa, do coelho, que representam a fertilidade nova na vida da Igreja. É daí que nascem os filhos de Deus, que escutam a sua palavra e crêem na ressurreição. O povo tem um grande respeito pela Semana Santa, principalmente pela Sexta-Feira da Paixão.


JBr - O jovem de hoje se cerca de mil parafernálias eletrônicas para se divertir e pouco liga para Deus. Como a Igreja Católica tem lidado com isso?

– Adaptando o Cristo aos jovens do mundo moderno, pois a Igreja Católica não tem como pregar um Evangelho que agrade a todos. Em Brasília, já sentimos uma resposta positiva, tanto que nossos três seminários estão lotados. A Igreja está atenta às atrações que a tecnologia oferece à juventude.

JBr -Como anda a demanda pelas vocações sacerdotais,  em Brasília?

Há cerca de 15 seminários por aqui, mas só dois atendem Brasília, Redentoris Mater e Nossa Senhora de Fátima. Atualmente, temos 200 seminaristas, a carga máxima desses dois seminários, e ordenamos uma média de 10 sacerdotes, por ano. Ainda é pouco, mas, em comparação com outras dioceses e diante da carga de atrações modernas para a juventude, devemos levantar as mãos para o céu.

JbR - A relação padre-fiéis na cidade está equilibrada?

Brasília tem a média de 20 a 30 mil católicos por sacerdote. Nenhum padre dá conta de uma comunidade com tantas almas. E já seria demasiado se um deles atendesse a 10% desse rebanho. A Igreja Católica passou por uma crise nas vocações, nas décadas de 70 e 80, devido o surgimento de ideologias dentro do seu corpo, mas as estamos retornando para um bom nível, graças a muitos movimentos e pastorais.

JBR - Como a arquidiocese de Brasília atende à demanda?

Trabalhamos em conjunto. Os padres atuam por setores e estes por vigariados, que são ligados ao arcebispado, que dá uma visão geral na administração de toda a diocese. 

JBr - É difícil para a Igreja em Brasília chegar ao jovem de hoje, que quer muito mais brincar, namorar, passear...

De modo direto, trabalhamos mais com a família, para aglutinar em torno dos jovens os sentimentos cristãos dos pais. Se estes forem laicos, é claro que a fé cristã desaparecerá nos filhos. No Domingo de Ramos (16.03), por exemplo, também, o Dia Mundial da Juventude, trabalhamos na atração da juventude para a Igreja, por meio de várias pastorais e movimentos cristãos, como Eureka, Segue-me, Escalada, Emaus e outros apropriados para o segmento. Descartamos atitudes equivalentes a “laçar” o jovem e trazê-lo obrigado para Cristo.

JBr - No Papado de João Paulo II, a Igreja identificou a música como um grande elemento de atração da juventude, por sentir-se distanciando dela, e chegou até a promover um concerto, com Boby Dylan. Que peso se dá, hoje, isso  na apresentação de um Cristo novo para a juventude?

Com a música, o jovem cria o contexto do estar junto, pois ela puxa a alegria, a dança, o ambiente que a garotada gosta, para exibir aos amigos as suas vaidades, particularidades. Temos vários padres cantores – Marcelo Rossi, Zezinho e Fábio de Mello, entre outros –  que evangelizam também por meio do canto, além de grupos jovens, nas paróquias, que montam até bandas para musicar e animar as celebrações.

JBr - Se Cristo voltasse agora ao mundo, ele interagiria, sem dificuldades, com o jovem de hoje?

 Ele usaria dos mesmos meios usados há 2.000 anos para se comunicar.  Num domingo de ramos, Jesus entrou em Jerusalém, montado em um burrico que, na época, era o Ômega 2.0 de hoje. Ele incentivaria e puxaria as orelhas do jovem, da mesma forma que o fez até com os seus apóstolos. Jesus usaria a Internet, assim como o Papa usa, o telefone celular, todos os meios onde a sua palavra pudesse chegar.

JBr - Jesus aceitaria um convite da galera jovem para um churrasco?

Jesus foi à casa de homens ricos como Zaqueu,  Mateus e Simão. Este, por sinal, ofereceu-lhe um jantar fabuloso. Foi também à casa de pobretões como Marta, Pedro e tantos outros. Jesus se aproveitaria  todos os espaços lhe oferecidos para interagir. Iria ao Congresso Nacional, ao Maracanã, com certeza.  Onde ele pudesse conversar com o povo, ser ouvido, ele iria.    

JBr - Como a Igreja em Brasília faz a atração dos jovens para a fé cristã?

 A nossa atração não é, necessariamente, para o ministério sacerdotal. As nossas comunidades de vida, como a  Canção Nova e a Shalom, por exemplo, promovem reuniões entre jovens, sem o compromisso de serem padres ou freiras. Oferecem caminhos de se consagraram a Deus onde estiverem, como no trabalho, na faculdade, no casamento, no namoro santo, enfim, onde houver vida. 

JBr - O que é namoro santo?

Não é um namoro puritanista. É algo no qual se coloque limites, se contenha o impulso sexual, se afaste a  libertinagem, não se queime etapas, até chegar ao matrimônio, à formação de uma família, o ponto onde se possa ser feliz. A sexualidade, hoje, é mal passada para o jovem. Quando a escola defendeu o ensino do tema,  a Igreja o defendeu. Só que, em vez da orientação, veio a libertinagem total, o jovem podendo fazer tudo, sem  o compromisso do amanhã. O “ficar” é o descarte rápido, uma deformação da dignidade da pessoa humana.  Não vamos voltar à Idade Média, quando tudo era pecado, condenado. Só queremos um equilíbrio no respeito pelo próximo.      

JBr - Quem é o responsável pelo excesso de liberdade sexual disponível para o jovem?

Toda a sociedade. Por onde vamos, encontramos uma libidinagem muito grande, estampada no out-door, na TV, na revista, etc. Não se pode mandar a conta para o pai, a mãe ou a Igreja.

JBr - A Igreja condena o egoísmo, mas a TV, a mais poderosa das mídias,  parece ser o seu maior fomentador...

O Big Brother (da Rede Globo) é um bom exemplo disso.  Ninguém está ali para ter piedade do outro. Quando um se dá mal, os outros comemoram, vem a explosão do desamor. Cristo não ensinou se preocupar só consigo.       

JBr - A igreja condena o uso da camisinha, mas os governos alegam que não é o Papa quem via dar emprego e comido para o povo...

Levamos em conta a questão da saúde pública, que é uma tragédia, em nosso País. Porém, há grupos, firmas que comercializam, ganham muito dinheiro em cima da sexualidade das pessoas. A questão não é o preservativo, mas a consciência profunda do que é a sexualidade e com quais objetivos ela se dá.   

JBr - O povo menos esclarecido consegue entender este discurso da Igreja?

Temos os maiores técnicos no tratamento de temas como camisinha, moral, clonagem, bioética, etc. A Igreja não é ingênua para defender algo só pelo ponto de vista religioso. Ela tem a base científica, que embasa o campo moral. No confessionário, ouvimos muitos lamentos por não ter nos escutado. Há circunstância em que jovens se revelam usados, como objetos, e descambam para a depressão.

JBr -  Qual é a visão de um padre moderno, como o senhor,  sobre o aborto?

A mesma de Jesus Cristo, que veio ao mundo para que todos tivessem vida. O aborto é uma agressão ao feto está indefeso. Se aprovo o aborto, posso aprovar o assassinato. No caso do estupro, a Igreja conta com entidades que encaminham a criança para a adoção. Não abortem, entreguem à Igreja o filho indesejável, que traz  más recordações.

JBr - Quem liga a TV, invariavelmente, tem que ver a violência, nos filmes e novelas com tiros, assassinatos, seqüestros, etc. Porque a Igreja jamais fez campanha contra isso?
   
A Igreja faz campanha contra a violência no geral. A TV só mostra 10% do que ocorre, pois, dentro de casa, existe a agressão à mulher, aos filhos, proveniente da droga, do álcool, do descontrole, coisas que ficam escondidas, muitas vezes.  O combate a isso deve partir de toda a sociedade, quando achar abusivo, ver uma bomba-relógio na programação que entra em sua casa.

JBr - Em São Mateus, capitulo 19, está escrito que o homem não separa o que Deus uniu? A  vida moderna ainda pode comportar casamentos eternos?

A indissolubilidade do matrimônio foi o próprio Cristo quem nos deixou. Quem casou-se na sua Igreja não pode voltar-se contra ele. Cristo não fundou uma Igreja que satisfaça conveniências.    

JBr - É grande o número de igrejas que surgem, quase sempre com seus líderes parando no noticiário policial...

Cristo deixou um alerta sobre os que viriam em seu nome, os lobos revestidos de pele de cordeiros. Isso ocorre nos campos econômicos e ideológicos, quando tais lobos se aproveitam  do momento de fraqueza das pessoas, que se agarram a uma religião. Além do catolicismo,  luteranos, presbiterianos, batistas, metodistas, as igrejas reformadas, são caminhos alternativos, mostram um Cristo justo.
  
JBr - O senhor foi o primeiro padre nascido e sagrado em Brasília...

Sim. Nasci na Vila Planalto, em 3 de março de1964 e me ordenei em 3 de dezembro de 1988, quando celebrei a minha primeira missa, na Igreja de Dom Bosco, na própria ordenação. Naquele dia, à tarde, celebrei também na capelinha da Vila Planalto.

JBr - De onde partiu a influência para o senhor ser padre?
 Da família e do Dom Ávila – ex-arcebispo militar de Brasília –, um grande pastor e meu pároco na Vila Planalto. Ele me incentivou demais. Desde os meus tempos de coroinha, eu queria ser padre.

JBr - O administrador bota fé na restauração dos vitrais da Catedral?

 Estamos negociando um patrocínio da Petrobras e de entidades privadas. Contamos com o apoio governamental, pois não temos fins lucrativo A Catedral é a igreja-mãe e o cartão postal de Brasília.

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