Há 70 anos, a "volante" do João Bezerra – como eram chamadas as patrulhas da polícia nordestina – matava e degolava o mais temido bandoleiro do sertão, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
Figura cuja discussãso não se esgota, Lampião, reconhecidament, foi bandido, o inimigo público número 1 do governo Getúlio Vargas. No entanto, de um momento para o outro, foi tornado legalista, considerado o único homem capaz de capturar o “bandido da hora”, o ex-tenente Luis Carlos Prestes, que desafiava o poder do gaúcho presidente da República.
Entre os que viram em Lampião um oprimido, e não um bandido, estava o líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião (1915-1999), para quem, Virgulino foi o primeiro nordestino a enxergar a opressão das elites e a responder contra as arbitrariedades. Analisando-se, friamente, e transportando-se no tempo o pensamento do “rei do cangaço”, o que ele fazia, nas décadas de 20 e 30, em relação ao latifúndio, era semelhante ao que pensa, hoje, o Movimento dos Sem-Terra (MST).
Isso foi o que, também, entendeu, quando ainda não havia o MST, o maior dos cineastas brasileiros, Glauber Rocha, ao levar para as telas a luta armada, a revolta popular contra a opressão, nos filmes “Deus e o diabo na terra do sol” e “O dragãoda maldade contra o santo guerreiro”. Um trabalho, publicado em 2007, pela pesquisadora francesa ÉliseJasmin, também encontra Lampião como emblema da luta contra a insjustiça, embora vendo a ambivalência da sua emblemática figura se perdendo nos meandros das releituras política e cultural do Nordeste.
Lampião foi um bandido que pilhava e matava, mas, nunca, um revolucionário, embora tivesse ganho (de boca), na décadas de 20, a patente de capitão (jamais recebida), para combater a Coluna Prestes, liderada pelo comunista Luís Carlos Prestes (1898-1996). Ele nem sabia o que era isso. Comunismo, capitalismo, socialismo eram palavras que passavam longe do bico de sua peixeira. “Bandidava”, inicilamente, apenas por sede de vingança, afinal assistira ao assistira ao assassinato do pai, pelo vizinho, Zé Saturnino, o qual jamais conseaguira matar.
Como tempo, firmado como líder bandoleiro, Lampião acumulou a notoriedade que lhe rendia o respeito de parte a elite fundiária que o protegia, e até pensou em aposentar-se, como fazendeiro. Enxugada a história, radicalmewnte, não seria errado dizer-se que a etnrada de Lampião para o cangaço pode ser colocada na conta do Estado, pois a ausência deste no sertão era que permitia a legitimação do banditismo. E Vrigulino não fizera nada de extraquotidiano. Diante das injustiças, não restava ao sertanejo nordestino nada além da violência. Sempre, excluía-se da sociedade, voluntariamente, para vignar uma afronta, reparar uma injustiça, reconquistar a honra. Para um dos maiores pesquisadores sobre o cangaço, Frederico Pernambucano de Mello, o que Lampião fizera, meramente, fora “usar a vingança como um álibi para a reparação de ofensas pelas armas”, daí ter a sua justificativa para impor o horror no sertão.
Nascido em 1898, Lampião inovou o cangaço, estabelencendo a hierarquia, criando códigos de honra, rituais de iniciação, a ostentação e permitindo às mulheres se juntar ao seu bando, a partir de 1935. Num tempo em que não havia marketing, ele percebeu que o melhor meio de desafiar governos era valorizando sua figura, e não não teve cerimônias de a fotografia e o cinema. Por onde passava, jogava moedas para o povo, dava autógrafos, distribuía fotos e, as vezes, até mandava enviá-las para os jornais, como registrou, em 1935, O Diário de Pernambuco.
Lampião descobriu a força da mídia bem antes, em 1926, quando entrou em Juazeiro do Norte-CE, como legalista, no combate à Coluna Prestes. Recepcionado por mais de quatro mil pessoas, dos mais diferentes sertõe, concedeu entrevistas, foi fotografado pelos jornais cearenses e já montou no seu cavalo vendo de onde partia a fonte do poder. Depois, no entanto, só interagia com a imprens por meio de intermediários.
Como se preopcupava sobre o que se publicava sobre ele, e não tinha como controlar os jornais, Lampião transofmrou o “cineasta” e fotógrafo amador Benjaminm Abrahão em seu marqueteiro oficial. Porém, inferia na “direção artística” do que seria divulgado sobre ele. Nesse processo marketeiro, Maria Bonita, sua mulher, até foi garota-propaganda da Bayer, divulgando a cafiaspirina. Coube porém, a ex-bordaeira Dadá, companheira de Corisco, outro lendário cangaceiro, criar o imaginário popular do cangaceiro, divulgado a partir de 1935, pelo cineastas Lima Barreto, no filme “O Cangaceiro”. Foi Dadá, e não Lampião, quem inventou os motivos bordados em couro branco sobre o chapéu, as flores, também bordadas, em tecidos coloridos sobre as bolsas, os peitorais e os cinturões largos.
Todas essa história, inciada em 1922, acabou em 28 de julho de 1938, quando Lampião foi cercado e crivado de balas pela volante que percorra Angicos, no Rio Grande do Norte
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